Em seu último artigo do ano de 2021, publicado na Revista Cult, “Magmas do submundo”, Eugênio Trivinho define o submundo e explica o processo de confusão semântica na ordem dos significantes mais nobres da nossa História: “há muito se sabe que a barbárie escreve cru na contraface o que a civilização, com toneladas de positivismo mediático, escamoteia no anverso”.
Para o autor, o submundo é mais que uma metáfora: “No imaginário cultural e medieval de Dante, o extenso latíbulo sinistro, referido a palavra diversa — inferno —, tinha camadas concêntricas relativamente definidas”.
O submundo é espalhafatoso e, ao mesmo tempo, silencioso. Pertence à classe dos fenômenos invisíveis da Cibercultura. Recorta classes sociais e permeia todas as formas de autoritarismo. É regido por diversos tipos e níveis de desigualdade.
O submundo irradia confusões e alimenta-se da miséria humana existencial. O cinismo estrutural blinda sua preservação escudando-se nos valores humanitários mais caros, o que inclui até mesmo “zombaria da instituição escolar e do estudo: ‘não têm utilidade”’.
A escória desdenha de quem defende direitos humanos — existenciais e constitucionais — e abraça os porões da tortura e da regressão histórica. A devastação causada pelo submundo “não acomete somente o presente; entregam o futuro imediato aos deleites de uma corrosão irreversível”.