Vítimas internas do submundo: Reprogramação algorítmica e ideológica do imaginário feminino

Palavras-chave: Comunicação; cibercultura; submundo; vítimas internas; reprogramação algorítmica e ideológica do imaginário.
Ano: 2022

O presente artigo dedica-se à investigação do modus operandi do submundo da cultura digital, com foco na reprogramação algorítmica de base ideológica do imaginário das vítimas internas.

Na circunferência desta pesquisa, o submundo é compreendido pelo oligopólio cartelizado de sites de pornografia, de webcamming e de vendas de “packs” eróticos. Trata-se de uma configuração cibercultural, patriarcal e exploradora da sexualidade na direção da mercadoria, que disponibiliza como único modelo de contrato trabalhista a cessão vitalícia dos direitos de imagem da mulher aos proprietários ocultos para comercialização posterior desses dados (fotos, vídeos e apelido) na rede.

Nesse cenário, as vítimas internas são identificadas pelas mulheres, geograficamente localizadas em países periféricos do capitalismo, enlevadas pela visibilidade mediática tipificada do submundo a perderem todos os seus direitos à privacidade e à proteção de dados pelo resto das suas vidas.

A reprogramação, por sua vez, é aqui compreendida pelo processo de domesticação do imaginário, cujo ciclo é composto pela reprogramação algorítmica (elaborada por feeds algorítmicos hipercustomizados de conteúdo) e pela reprogramação ideológica do imaginário (mediatizada pelo cinismo empresarial que propositalmente confunde “empoderamento feminino” e “interação com o outro” com controle do outro).

Objetiva-se descortinar a violência (sobretudo simbólica e invisível) que permeia (i) o contrato trabalhista dos sites adultos no que tange o retrocesso histórico dos direitos sociais e civis das mulheres, (ii) o processo de rebaixamento da vítima do imaginário cultural à periferia do imaginário social, e (iii) a maneira pela qual proprietários ocultos e capatazes evidentes (influencers digitais e “coachs” financeiramente remuneradas para recrutar novas vítimas) encobrem a violência do submundo por meio dos desvios semânticos das narrativas publicitárias na rede.

A articulação temática entre comunicação, cibercultura e submundo é feita com base no referencial bibliográfico das teorias críticas da comunicação, da cultura virtual e do imaginário, com destaque para os autores: B. Cyrulnik, C. Castoriadis, E. Morin, E. Trivinho, J. Baudrillard, M. Contrera e T. Adorno.

Contribui-se, assim, para o campo de estudo em questçao a partir de um ponto de vista necessariamente crítico.