A reprogramação cibercultural no filme “Não olhe para cima” (Don’t Look Up)

Palavras-chave: Reprogramação cibercultural; Não olhe para cima; Netflix
Ano: 2023

O filme “Não olhe para cima” (Don’t Look Up), disponível na NETFLIX, traz à tona uma reflexão fundamental para a época em curso: o processo cruel, consciente e proposital de alienação e domesticação do tecido social por meio de manobras políticas e econômicas que estrategicamente destroem descobertas científicas, ora transformando-as em instrumento de zombaria, ora apropriando-se delas e esvaziando o sentido, ora ignorando-as por completo.

É possível associar o cometa que vai colidir com a Terra e destruir toda a humanidade com a REPROGRAMAÇÃO CIBERCULTURAL. Trata-se do processo online e offline, individual e coletivo, de redução dramática da potência do imaginário à mera reprodução da ideologia dominante de oligopólios ciberculturais por meio de feeds algorítmicos hipercustumoziados.

Há muito o amor, o afeto e até mesmo o medo deixaram de ser líquidos, como Bauman diagnosticou. Descartar não é suficiente. É preciso humilhar, detonar, exercer a crueldade em seus níveis mais profundos. Vivemos a Era do “cancelamento”, isto é, a Era da perversão “interativa”.

Esta perversão que vemos estampada nas redes sociais todos os dias e chamamos de “cancelamento” tem uma origem (como tudo na vida).

Não apenas foi fabricada, como é encorajada diariamente por um configuração exploradora e patriarcal da sexualidade feminina na direção da mercadoria. Não bastasse, é cinicamente anunciada como “interação”, “conexão”, “fetiches inofensivos”, “empoderamento feminino”, “liberdade” e “empreendedorismo”. Ou seja, anuncia-se exatamente o oposto daquilo que se provoca. O machismo é totalmente maquiado pelas fake news da narrativa publicitária.

Assim como no filme, capatazes (ocultos e evidentes) são remunerados para “tornar o assunto leve e divertido” e para silenciar todas as tentativas de conscientização da esfera pública sobre a gravidade da situação.

Para finalizar, questionamos: quando é que vamos “olhar para cima” e levar a sério esse “cometa” da reprogramação cibercultural? Direta ou indiretamente, isto afeta a todos nós, uma vez que a experiência online retroage sobre a experiência de vida offline, o que, por sua vez, altera pensamentos, sentimentos e comportamentos na vida cotidiana.