Tão importante quanto definir, é mapear os efeitos psicossociais da reprogramação do imaginário masculino para a vida cotidiana em sociedade. Sobretudo, no que se refere ao encorajamento de pulsões perversas do inconsciente de quem está na cadeia de comando na vida normativa.
O que é o homem reprogramado?
O homem heterossexual reprogramado é o produto da indústria adulta digital. Todavia, é comumente chamado pelas empresas do submundo de “público fetichista“.
“Público fetichista” para esta indústria significa o homem heterossexual que:
(1) já sofreu dramática mutação sensorial;
(2) está perdendo qualidades naturais da sua espécie; e
(3) paga pelo serviço da profissional deste setor para ser humilhado, torturado e ridicularizado em tempo real.
Os sites adultos propositalmente fabricam perversões no imaginário masculino para lucrarem com a violação da dignidade humana em todas as suas faces.
O que especificamente uma empresa do submundo comemora quando há 1 bilhão de acessos no ano de 2021?
Celebra-se a produção em massa de uma nova mercadoria, que é a reprogramação do imaginário masculino. Isto é, a perversão contra o outro e contra si mesmo.
Quais os efeitos psicossociais da reprogramação do imaginário masculino na vida cotidiana para a sociedade?
Todas as relações fabricadas pelo submundo são degenerativas, assimétricas e verticais. Todavia, são vendidas como saudáveis, simétricas e horizontais. O contrassenso é nítido.
Sigmund Freud, em sua obra “As Três Conferências sobre a Teoria da Sexualidade” de 1905, conceitua o instinto sexual e a sexualidade como fenômenos distintos e constata que a sobrevivência da civilização depende da capacidade consciente de cada um de nós para lidar com pulsões perversas do nosso inconsciente.
- Instinto sexual: é compreendido como um comportamento fixo e pré-formado, típico de uma espécie.
- Sexualidade: caracteriza-se fundamentalmente por sua plasticidade e pela relação individual de cada sujeito com o seu desejo. Isto é, a sexualidade não se confunde nem com instinto, nem com objeto, nem com objetivo. Refere-se, portanto, a simbolização do desejo.
Ou seja, as perversões devem ser combatidas e não encorajadas. Todavia, a indústria adulta digital estimula a ausência de limites sobre o corpo do outro e do próprio corpo, confundindo sofrimentos, abusos e torturas físicas e psíquicas com “possibilidades de prazer”, pois o objetivo é o lucro custe o que custar.
Desta forma, o imaginário masculino é instigado a criar cenários cada vez mais perversos, os quais, ali, no ciberespaço, poderão ser realizados anonimamente. Isto é, sem qualquer responsabilidade, senso crítico, reflexão.
Assim, o imaginário é reprogramado, trazendo à tona o pior do ser humano, gerando um perigo — até o momento — incalculável para a civilização.