A simbiose digital (2022) enquanto conceito chama atenção para o impacto que as sombras da cultura digital causam na vida cotidiana, tendo em vista que a cibercultura como categoria de época define-se como o mundo em curso propriamente dito. Em outras palavras, a experiência online incorpora o digital e o transcende. Isto significa que tudo o que é consumido online reflete nos pensamentos, sentimentos e ações offline também. O impacto é concreto
A intimidade devastada pela tecnologia afeta dramaticamente a teia da vida. As pessoas são apresentadas como mercadorias perecíveis, descartáveis, precificáveis. A mercadoria é simbólica, notadamente, a miséria humana existencial em todas as suas faces. Especificamente, a violência invisível contra o outro cinicamente anunciada como “conexão e interatividade” por meio de desvios semânticos nada inocentes. A potência criativa do imaginário é rebaixada e reduzida a mera figura decorativa que não exerce mais papel algum além de reproduzir o simulacro e a hiper-realidade.
A catástrofe inevitável deste processo está no fato de que viver e naturalizar experiências perversas, radicalizadas, polarizadas, extremas em rede significa experimentá-las no imaginário, reprogramando-o. Isto é, novos referenciais de sensações, de valores e de atitudes são produzidos. Turvos, esvaziados do seu significante original. A reprogramação do imaginário por esses novos referenciais (perversos, radicais, polarizados) transformam o parâmetro social de sentido e alteram irreversivelmente o curso da civilização.
Em outras palavras, a barbárie que explode offline na vida cotidiana tem suas raízes sombrias nos porões da perversão consumida online. Portanto, desvelar a dinâmica do submundo da cultura digital é fundamental para apreender a sociedade tecnológica avançada como um todo.
Palavras-chave: cibercultura; vida cotidiana; imaginário; simbiose digital; reprogramação do imaginário social.